Recentemente foi veiculada de forma ampla a notícia de uma estudante brasileira aprovada no vestibular para engenharia numa das melhores universidades da América do Sul e que foi impedida de se matricular por ter realizado parte do ensino médio de forma domiciliar. A garota se formou pelo famoso homeschooling e, mesmo com a aprovação, o estado considerou que sem um diploma autorizado pelo MEC isso tudo é inválido.
Desde então, muita discussão acerca do tema tem sido levantada. Alguns argumentam que essa modalidade de ensino só serviria para uma doutrinação cristã na educação. Outros já chegam a dizer que as crianças não são propriedade dos pais para eles educarem da forma que bem entenderem ou, até, que crianças ficariam privadas do convívio social mínimo a partir desta metodologia.
No livro “Educação livre e obrigatória” o professor americano Murray Rothbard fala sobre como nosso sistema de ensino tradicional despreza as diferenças naturais de desempenho entre os alunos. Nosso sistema pune o ótimo aluno que poderia se aprofundar muito mais em diversas disciplinas e também pune o aluno de baixo rendimento, que não consegue acompanhar o ritmo geral da turma e acaba sendo tachado de “burro” ou desinteressado.
Devemos também ressaltar aqui sobre uma questão conceitual importante que Rothbard levanta em sua obra: a escola promove ensino técnico-científico enquanto educação vai muito além disso. A educação se refere às suas diversas ações realizadas dentro da sociedade e é obtida parte na escola, parte no núcleo familiar e parte nas relações sociais cotidianas (trabalho, lazer…).
Então esse argumento de que a escola deveria promover educação cívica e formação de um cidadão melhor não passa de pura falácia, uma vez que é Impossível a escola fornecer uma completa educação do indivíduo.
Não me cabe aqui entrar em vias técnicas para discutir se a escola fornece formação mais completa que o homeschooling ou vice e versa. O ponto chave do porquê o homeschooling deva ser descriminalizado é a liberdade. Não cabe a terceiros (principalmente ao estado) determinar qual o modo de formar nossas crianças. Nós sabemos os pontos fortes e fracos de cada filho e com atenção individualizada eles podem crescer muito mais nessa jornada. O que há de tão criminoso em desejar uma melhor formação técnica para o próprio filho?
O argumento sobre religião também é totalmente desprovido de lógica, além de preconceituoso. Fomentar uma educação com maior teor religioso significa formar uma criança às margens da ciência? Os grandes estudiosos (físicos, médicos, engenheiros, escritores…) da humanidade foram, necessariamente, ateus? Não existe a relação inversa entre religiosidade e conhecimento científico. Já conhecemos essa ojeriza da esquerda com as religiões.
Também não fique espantado se ouvir de alguém que a educação domiciliar deve ser criminalizada, uma vez que as crianças não são propriedades dos pais. Dizer que qualquer indivíduo é propriedade de outrem e não de si já é um verdadeiro absurdo. A autopropriedade é algo inalienável. Mas no caso das crianças falamos em tutela. A criança não pertence aos pais, mas, por sua situação naturalmente vulnerável, ela acaba sendo tutelada por estes. Sabendo disso, voltamos à questão anterior: se a criança não pode ser tutelada pelos próprios pais, os maiores interessados nisso, deve ela, então, ser tutelada pelo estado? Cabe a um burocrata de Brasília decidir o que é melhor para formação das crianças sempre? Se ouvirem algum absurdo maior que esse, favor me avisar pois este está entre os maiores.
Uma vez desmentidos os diversos absurdos anteriormente citados, o paulofreiriano te dirá que a educação em domicílio priva a criança do convívio social e do aprendizado do trabalho em grupo. No entanto, já é de pleno conhecimento que tutores da educação domiciliar tendem a formar associações, onde desenvolvem diversos trabalhos em grupo com as crianças. Práticas esportivas coletivas e escolas de língua estrangeira são frequentemente estimuladas.
Vamos, então, ao argumento final do coletivizador educacional: a maioria dos pais não possui formação técnica para ensinar todas as matérias aos filhos. Tal afirmação não é nada além de verdadeira. É justamente por isso que no homeschooling é totalmente comum a contratação de tutores educativos, verdadeiros professores particulares. Pessoas com formação técnica e experiência no ensino. A educação domiciliar exige comprometimento e organização específicos que muitos pais não conseguem cumprir. É natural que, mesmo com a descriminalização deste modelo educacional, a maioria dos estudantes permaneça em escolas tradicionais.
Entendemos agora que o homeschooling pode até não ser necessariamente melhor que o modelo escolar de ensino coletivizado, mas ele abrange uma maior amplitude da liberdade. Os tutores que desejam uma educação individualizada e personalizada aos seus tutelados não devem ser criminalizados por isso. O homeschooling já é realizado em diversos países e com bons resultados em sua maioria. O verdadeiro crime é o desejo injustificável de limitar as liberdades alheias.
#FAL