Mulheres, empoderamento e ostracismo

Sob o lema do empoderamento, o que antes era restrito a determinados ambientes passou a inundar as redes sociais, tais como imagens reveladoras da figura feminina e textos expondo detalhes de situações da vida. O severo e constante queixume acerca das desilusões amorosas – que outrora ocorria em rodas privadas de amigas – agora encontra lugar na vida pública.

Abundam os exemplos de programas de TV, revistas, blogs, perfis nas redes sociais, podcasts e outros, em que as expositoras se reúnem com o fim precípuo de expor, para quem estiver interessado, as agruras de suas vidas.

Colocam-se, dessa forma, como mártires da vida moderna em que absolutamente tudo é difícil, terrível e incontornável: a maternidade, o trabalho, a menstruação, a depilação, as amizades, os estudos e, por fim, mas não menos importante, os relacionamentos com o sexo oposto. A vida é um eterno sofrimento feminino, e, portanto, precisaríamos de uma ajudinha do estado a fim de facilitá-la: mulher grávida não trabalha, longos meses de licença maternidade, absorventes grátis, creches gratuitas que substituem a mãe, pensão em caso de divórcio, entre outros absurdos.

No âmbito dos relacionamentos amorosos, passou a se vender a ideia de que a mulher é o ser que mais sofre neste mundo. A culpa, é claro, é dos homens malvados que não as amam como elas acham que deveriam.

Observem que não raramente os depoimentos começam com a mulher narrando uma situação em que ela se coloca, voluntariamente, em uma situação deplorável –seja acolhendo o cara que é seu namorado há três meses, emprestando dinheiro e bens, aceitando pequenas grosserias ou engravidando de completos idiotas- para, ao final, colocar a culpa inteiramente no sujeito.

Nenhuma autocrítica, nenhum auto exame de comportamento, nenhuma consideração acerca da responsabilidade para com a própria vida. O problema sempre está fora.

Para piorar o cenário, reclamam dos homens, mas não desistem de se relacionar com eles. Ora, se a coisa está assim tão feia, não seria mais racional desistir logo dessa faceta da vida? Afinal, ninguém é obrigado a se relacionar com ninguém. Reclamam, mas promovem podcasts cujo único objetivo é reunir quatro ou cinco mulheres que, durante duas longas e exaustivas horas, falam sobre homens. Logo, concluo que o único interesse da mulher brasileira contemporânea é o homem, mas se queixam deles. Não dá pra entender.

No entanto, o mais grave de tudo é que tais queixumes –que deveriam estar restritos à vida privada- encontram eco na mente de legisladores oportunistas. Com isso, vemos a criação de milhares de leis que visam proteger a mulher e diminuir a desigualdade de gênero. Como exemplo, veja-se o PL que foi recentemente aprovado que tipifica o crime de “violência psicológica”, que seria o ato de “Expor a mulher a risco de dano emocional que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação”.

Percebam o perigo do texto em que há a tipificação de condutas difíceis de provar, já que há conceitos muito subjetivos – tais como humilhação e constrangimento, por exemplo – que dependem somente do sentir de quem foi “vítima” de tais condutas. Para ilustrar, imagine-se que Maria se sentiu humilhada porque seu marido José fez uma inocente piada sobre seu novo corte de cabelo. Por isso, José poderá vir a ser processado e preso por dois a quatro anos.

Ora, quem em sã consciência desejará se relacionar sabendo que pode terminar preso por uma besteira? Que tipo de relacionamento é este em que as partes não podem se expressar livremente? Onde foram parar a conversa e o entendimento entre parceiros adultos? Por que diabos as mulheres se comprazem em ser tratadas como incapazes?

As mulheres devem urgentemente parar de endossar condutas vis de seus parceiros, pois à exceção da violência física, ninguém faz nada conosco com o qual não tenhamos anuído previamente, seja de forma explícita, seja de forma tácita.

#julia

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *