Lapidando um libertário

É difícil encontrar uma pessoa que não goste dos filmes do cineasta britânico Christopher Nolan. Ele é responsável por grandes filmes como O grande truque, Amnésia, Interestelar e A origem. É justamente sobre esta última obra citada de Nolan que pretendemos falar aqui, e sim, tem tudo a ver com o movimento libertário.

Inicialmente, vale uma breve revisão do contexto cinematográfico. No filme A origem, de Nolan, um grupo de profissionais contratados tenta adentrar a mente de um poderoso empresário –através de seus sonhos– e implantar uma ideia na mente dele. Estes profissionais deixam claro, em um dado momento, que não basta apresentar uma informação complexa pronta para alguém e esperar que esta pessoa se convença daquilo. É necessário construir a ideia juntamente com a pessoa para que ela suponha ter chegado àquela conclusão.

O que vemos constantemente no cenário libertário brasileiro atual é o mesmo erro apontado pelas personagens do filme citado. Escrever “COMUNISTA!” em caixa alta em debates de redes sociais ou gritar que “imposto é roubo” durante um jantar em família de nada ajudarão o movimento libertário. O saldo no final do dia, após estas intervenções, serão de libertários a menos, pois tais condutas só reforçam estereótipos que já carregamos injustamente. Como podemos, então, abordar melhor as pessoas para lapidar um novo libertário? O filme de Nolan já nos ensinou.

O primeiro passo seria algo já muito proposto por Hoppe e Rothbard (e, logicamente, o libertário brasileiro de internet não sabia disso, pois também não estuda as obras libertárias, apenas assiste vídeos rápidos de influencers): deslegitimar a ideia já vigente, no caso o estatismo/socialismo. 

Antes mesmo do colega liberal, conservador ou mesmo socialista entender sobre PNA e que a tributação estatal fere a propriedade privada, é necessário fazê-lo entender que o socialismo e seus diversos graus (representados no estatismo) não funcionam e somente levam ao declínio da civilização humana. É necessário mostrar ao seu parente que gosta de discutir política que não há intervenção governamental benéfica; que as maiores calamidades humanas foram realizadas com a anuência do estado; que qualquer suposto benefício direto que o estado te fornece vem às custas de expropriações muito maiores e violentas. Lembre-se que este processo é lento e progressivo, depende de paciência e persistência da parte do libertário despertador. Nesta fase, então, é aberto um pequeno vácuo na mente de uma pessoa, onde ocorre a desconexão entre a imagem do estado e boas ações/resultados. 

Partimos para a fase mais decisiva em seguida. Uma vez convencido de que o estado é ilegítimo e não traz benefícios para nenhum indivíduo e muito menos para a sociedade, o libertarianismo precisa entrar para preencher o vácuo mental. “Se o estado não é a solução dos nossos problemas, o que seria?”, pensará o pobre recém-despertado. E assim o libertário entra com as ideias de individualismo, ação humana e livre mercado. Lembre-se de que a ideia tem de ser construída, falar em ilegitimidade da democracia, descriminalização das drogas e porte totalmente irrestrito de armas pode ser uma overdose da red pill logo no início. Assuntos já bem tolerados e discutidos são mais palatáveis e processáveis. A partir daí, conceitos e análises mais disruptivas vão entrando como informações inocentes, apenas “pontos de vista diferentes”.

Desta forma, o libertarianismo fica mais digerível. Lembre-se que antes de propor a sua ideia você deve perguntar o por que a ideia alheia é melhor. Coloque o estatismo à prova sempre, desnude-o. Entre, gentilmente, com as concepções de propriedade privada usando exemplos cotidianos. Antes, procure pontos de concordância com o outro, isso já facilita o diálogo e te prepara para o nível de argumentação necessária. E o mais importante de tudo: estude o libertarianismo! O colega a ser convencido já está munido de doutrinação estatal vitalícia, não subestime um alienado.

Sem estratégias, o libertarianismo brasileiro nunca alcançará o lugar que tanto almeja no debate social do cotidiano. Precisamos traçar caminhos e planos acessórios para atingir a visibilidade necessária. É preciso paciência e perseverança nesta conquista. Os socialistas souberam usar tais condutas e hoje estão ganhando a batalha, mas com atenção podemos vencer esta luta. Como disse um libertário certa vez: se o socialismo, que possui ideias e resultados tão ruins, tem perseverado bem na sociedade, por que o libertarianismo, que é tão bom, não pode?

#FAL

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *